Adenomiose é caracterizada pela presença de tecido endometrial em permeio ao miométrio. Glândulas e estroma do tipo endometrial são encontrados ao lado do miométrio hipertrófico e hiperplásico. Semelhante à endometriose, a adenomiose é doença estrogênio dependente.
A real incidência da adenomiose é incerta já que aproximadamente 35% das portadoras são assintomáticas, quando apresentam sintomas menorragia (40-50%), dismenorréia (10-30%) e metrorragia (10-12%) são os mais comuns. Com a mudança de estilo de vida da mulher moderna, postergação da maternidade, infertilidade e adenomiose é uma associação que estamos vendo com maior frequência.
Um grupo italiano estudou cerca de 900 mulheres que foram submetidas à histerectomia por doenças ginecológicas benignas. Encontraram adenomiose em cerca 30% das operadas, tanto por prolapso genital, quanto por leiomioma. Este dado ilustra o caráter, por vezes assintomático da moléstia.
Ao contrário da endometriose, a adenomiose, frequentemente, acomete mulheres que já gestaram ou foram submetidas a algum procedimento uterino, como curetagem, miomectomia ou cesárea. O risco relativo para aquelas que tiveram um ou dois abortos induzidos é de 1,9 (IC 1,2-2,8).
O diagnóstico é clínico associado a métodos de imagem. O quadro clínico é relativamente típico. Mulheres entre 30-40 anos com queixa de dismenorréia secundária associada à hipermenorragia. O exame ginecológico é pobre, por vezes percebemos aumento do volume uterino, porém, ao contrário do que observamos no mioma uterino, a superfície é normal. Frente a suspeita diagnóstica, ultrassonografia é solicitada e, uma heterogenicidade difusa e aumento da ecogenicidade do miométrio são observados, pequenos cistos miometriais também podem estar presentes. A sensibilidade do método no diagnóstico de adenomiose é de aproximadamente 85%.
A doença pode se apresentar, também na sua forma nodular, o adenomioma, devendo-se fazer o diagnóstico diferencial com mioma. Quando possível a ressonância magnética deve ser solicitada, pois é útil na confirmação diagnostica, sendo o método de imagem mais sensível para ação desta enfermidade. Na RM podemos notar sequência em T2, o miométrio difusamente heterogêneo e, o mais importante, espessamento e/ou irregularidade da zona juncional, quando esta mede mais de 10mm a suspeita diagnóstica se confirma. Após suspeita diagnóstica, clínica e radiológica, o tratamento é proposto. Basicamente pode ser dividido em conservador ou radical. Em mulheres ainda desejosas de gestação a primeira opção é o tratamento clinico. Quando a adenomiose é focal pode-se indicar a remoção laparoscópica do nódulo, já que este não responde de forma adequada ao tratamento clínico. Em mulheres com sintomatologia exuberante e sem desejo reprodutivo, podemos indicar a cirurgia radical, histerectomia total ou subtotal.
O tratamento clínico, nas oligossintomáticas pode ser indicado com anti-inflamatórios não hormonais no período pré-menstrual. Ainda não existe consenso na literatura de qual é o melhor anti-inflamatório que deve ser usado. A associação com antiespasmódico deve ser lembrada. Quando os sintomas dolorosos persistem após o uso de medicação anti-inflamatória ou antiespasmódica a introdução de droga hormonal visando o bloqueio da menstruação deve ser indicada. Dentre as alternativas disponíveis as de uso corrente são os anticoncepcionais orais, a progesterona de depósito e o SIU com levonorgestrel e temporariamente os análogos do GnRH.
Os análogos do GnRH, independente de sua formulação, podem ser utilizados somente por seis meses. Cumpre salientar que os análogos levam a um estado de hipoestrogenismo absoluto, com sinais e sintomas de pós-menopausa, sendo que a diminuição de massa óssea é o efeito mais preocupante. Por este motivo seu uso deve ser reservado para casos especiais, como em pacientes inférteis. É fato que, após a interrupção da medicação os sintomas retornaram. Talvez o uso dos análogos previamente à introdução de anticoncepcional oral combinado contínuo aumente os índices de sucesso do tratamento clínico.
O SIU-levonorgestrel tem resultado satisfatório no tratamento da adenomiose, reduz o volume uterino e o sangramento menstrual, entretanto o sangramento irregular e o seu custo dificultam o uso em larga escala. De forma semelhante ao que acontece na endometriose, o tecido endometrial ectópico responde de forma semelhante a mucosa uterina tópica, essa resposta implica na secreção de diversos mediadores inflamatórios que vão contribuir para a queixa álgica. Portanto, o bloqueio da ovulação por longo período de tempo, com o efeito progestínico predominante, manteria quiescentes os implantes miometriais, aliviando a queixa álgica. Apesar de não dispormos de trabalhos que relatem o uso contínuo e prolongado de contraceptivos orais combinados em pacientes com adenomiose, devido a seu baixo custo e fácil manejo de efeitos colaterais, o uso da medicação em mulheres que não podem ser submetidas à cirurgia radical deve ser lembrado.